Por George W B Cavalcanti
Aos primeiros lumes acordo sempre sem o teu aroma,
Essência de cálida consistência na maciez do teu corpo,
E abraço lençóis sobre o espaço de tuas ancas ausentes,
Quando me debruço ávido de tua presença ao meu lado;
O sono foge enquanto novos acordes do dia me acordam,
E, o que sempre ocorre é apenas o espalhar de memórias,
Secas, sem gozo, ou glória e a buscar por alento no silêncio.
Penso em ti, no quando fomos nós, para tentar ouvir tua voz,
Minha foz e fonte por trás desse fosco vidro que é o horizonte,
Silhueta do nada faz a linha divisória que te traz de tão distante,
Enquanto pretendo, mesmo daqui, tentar expandir a tua mente;
É o que importa, porque susta a vontade de explodir o restante,
Quando dizes achar engraçado esse modo de me fazer em verso,
No provinciano e triste entorno, no meu cansaço de ser sozinho.
Minha sonolenta rotina é espiar o novo dia por cima do seu muro,
Até ficar mais um tempo quieto não me parece virtude ou defeito,
Se tua miragem insiste em permanecer cúmplice de uma tênue lua,
Que segue deixando um rastro de indagações em meu pensamento;
Nesse mar de ilusões em que me encantas com o teu canto de sereia,
Mas, acordo para a realidade antes de me tornar espuma no rochedo,
E, fujo desse acalanto que, por encanto, faz de tuas águas o meu leito.