Por George W de B Cavalcanti*
Para justificar o título desta postagem, vou primeiro tangenciar a problemática existencial caraterística dos que tem o que se convencionou chamar de 'alma de artista'; na acepção original do termo. O que, por ser algo inato tem característica transcendente e, portanto, jamais é plenamente explicável. Até porque quase que totalmente incompreensível para os dela não dotados, enfocarei a respeito lampejos pertinentes que no momento me ocorrem.
Como acontece com toda história da vida e de consubstanciação da lenda pessoal dos assim identificados - algo que, via de regra, acontece após a morte -, diversos e insuspeitos fatores cronologicamente colaboram para a realização - nunca exaurida em seu mistério - da personificação dessa iridescente luz. Que, a uns encandeia, a outros embevece e a outro tanto incomoda; posto que a treva não afasta a luz, mas, o contrário é inevitável.
Entendo ser algo não presumido e isento de presunção, e um toque de genialidade que traduz claramente a presença do criador na criatura. Dotação singular ou plural no diferenciado portador de mesma, mas, sem dúvida, um fator geneticamente transmitido. Integrado e amadurecido pelo exercício do inerente dom na mútua relação que resulta na consolidação da lenda pessoal. A vida em ganho de significado pela inserção na história de páginas de beleza e encantamento.
A cultura na qual se nasce, cresce e desenvolve, o roteiro socioeconômico da família, os valores e o ambiente familiar, a quantidade e qualidade da educação formal recebida, a saúde pessoal e oportunidades de expressão do talento, estarão presentes e impressos na alma e na obra do artista. Nela, jamais descartando a atuação do imponderável, no que se inclui o nascer, viver e/ou permanecer em cidade pequena. Onde, com raras e honrosas exceções, se é menosprezado, ignorado e não raro reprimido; alvo da intolerância ao diferente e ao novo, típico dessas sociedades.
Tente esculpir em tal bloco contextual uma inovação emanada de especial percepção para ver o que te acontece -; terás que cinzelar o mais duro granito, acredite. Assim, quantos - em tendo diferenciado pendor criativo - não passaram pela desdita de conviver em rincão parado no espaço e no tempo; onde a biodiversidade pode até ser exuberante, mas, o espírito insurgente não é permitido. Tal conservadorismo - insegurança diante do questionamento - e reacionarismo à singeleza revolucionária do talento é a expressão mais corriqueira dos acomodados e, a arma política impiedosa habilmente manejada pelos mais poderosos do local.
Levam a vidinha ignóbil e pueril característica dos adoradores do "bezerro de ouro" e da "vaca sagrada". A amputar o espírito e a se colocar, pela supressão da empatia, em franco processo de psicopatia - segundo afirma a atual psiquiatria -; até que, sem carne ou leite algum, os consuma o profundo e escuro buraco do remorso. Traço de personalidade e resultado final comum, tanto à mente do humilde iletrado nativo quanto aos ditos "medalhões" dentre os déspotas locais mais esclarecidos. A resistência granítica à transformação e mudança igualmente os permeia; e, a sofrida alma do artista só terá pela frente horizonte de tormentas.
No que me diz respeito - se assim posso me incluir -, como quem luta para transformar o dom em ofício; escrever me gratifica interiormente sobremaneira. Embora eu já tenha escutado algumas vezes me dizerem, em tom jocoso, "o que é que você está ganhando com isso?" Quando então sinto dó da intelectualmente deserdada criatura, mas, principalmente, quanto ao seu aleijão emocional. Mas, persisto porque continuo a ser movido por convicção, ideal, sonho e esperança. O suficiente para escrever por pura realização íntima e deleite - e, até a presente data, sem ganhar nenhum dinheiro com isto. Contudo, para felicidade ou desgosto a depender do ponto de vista do caro leitor asseguro que, ao incursionar pelo campo das ideias a bordo das minhas palavras me percebo como que a trazer à luz nova vida. Bem entendido, os meus escritos; rebentos de gravidez pelo conhecimento acumulado -, da união que me faz "padecer num paraíso".
Não importa se não vejam a minha literatura como algo maior - a semente de mostarda é modelar -, ela vale principalmente a realização integral do seu semear. Tenho certeza que um dia será uma robusta muda e - um tempo mais - frondosa árvore com generosos frutos. Continuo também porque não quero a essa altura da vida outra profissão que não o transitar entre prosa e verso; e, seguir em frente com grafite e palpite. Também porque isto para mim tem efeito lúdico; cato as palavras sentindo o frisson de competidor em jogo de varetas: meticuloso calmamente até colher a última, por não haver tirado de lugar a nenhuma anterior. O que me garante o privilégio de degustar o doce sabor da vitória ao concluir cada texto que escrevo. Indo a forra dos abastados e presunçosos que de mim desdenham, mas, que não conseguem - por mais que o desejem - escrever algo significante.
Enfim, este dom que entendo possuir; figurativamente o cultivo qual à exótica e fascinante pequena árvore. Com a paciência e acuidade de um oriental que no fascinante afã, igualmente se beneficia do telúrico e do cósmico -; quando, em minha mente firma suas raízes e se expande em todas as direções. Mas, singularmente a suscitar os meus cuidados: com a sua troca de vaso, eficiente irrigação e adubamento; e, poda regulamentar dentro de uma visão estética de embelezamento. Dela me apraz cuidar cotidianamente porque está sempre acessível; em mim mesmo. E, meu coração é humos que nutre o meu bonsai literário, que requer como vaso apenas o espaço de uma cabeça. Assim, espero contar com a vossa nesse milagre; do cuidado, nessa forma de vida exiguamente acondicionada, mas, pulsante de um amor imensurável como o universo.
Shalom chaver Guershon!
ResponderExcluirMuito me emociono ao ler seu blog, este desabafo confesso que és um homem batalhador, nunca desista, mesmo que aos outros pareça insignificante, mas há muitos leitores suas palavras são gratificantes e nos fazem repensar..
Abraços..
Rayna Junqueira
Shalom chaverá Rayna!
ResponderExcluirFazia algum tempo que, pensava em postar um texto mais alongado sobre o menosprezo local às sementes do intelecto. E que, retratasse em cores mais vivas o cotidiano aqui vivido por mim - praticamente desde que para cá retornei. Mas, felizmente o Eterno preserva em nós, o Seu povo, algo mais que os sentimentos menores que permeiam esse decaído mundo.
Todá rabá!