Por George W B Cavalcanti
Com segurança e serenidade afirmo que pertenço a uma geração que em sessenta (60) anos foi co-participe de transformações tecnológicas, econômicas e políticas que, em seu conjunto, foram mais “velozes e furiosas” do que as tais havidas em todos os períodos anteriores. E, particularmente, apesar do ostracismo imposto por aquí aos democratas autênticos pela hegemonia do “coronelismo de touceira” novamente vigente neste rincão, tenho conseguido – pela misericórdia do Eterno – me manter suficientemente bem informado. Ao ponto de não ser apenas mera testemunha da globalização e seus importantes momentos de transformação, mas, em particular, um atento observador com reiterado exercício crítico das realidades –; daqui e de alhures .
Nesse “trupé” (provável corruptela do termo original tropel) – expressão típica do campesino local para indicar um ritmo acelerado de marcha – assistimos à consubstanciação de idéias, de coisas e de personagens que, em tempos não muito remotos, renderiam, a quem as ousasse cogitar a pecha de louco ou “pirado”. Ou então, no obscurantismo da ditadura militar que durante vinte (20) anos nos amordaçou, ser o clarividente cidadão enquadrado como terrorista ou subversivo. No entanto, conjecturas as mais ousadas, não só chegaram a existir como a ser viabilizadas, aceitas e assimiladas em larga escala por nossa carente população como novos valores do cenário nacional. Até como pretensos modelos para o resto do mundo.
Bem sabemos ser axiomática a máxima que preconiza que “a roda do tempo gira, mas a história não se repete”. Pelo menos em parte, a tirar pelas recentes evidências havidas por aqui nos campos político, econômico e social –; com desdobramentos e imitadores a compor variações em torno do mesmo tema. Ou seja, encetar manobras ora sutis ora truculentas – mas igualmente cínicas – para se perpetuarem no poder mediante uma prática utilitarista da democracia. A que antes, ferrenhamente pareciam defender como arautos da ética e da moralidade pública. No que pese essa mesma geração ter assistido a queda de tiranos de todos os matizes, a implosão de ditaduras genocidas, a evaporação da utopia do “socialismo real” – vez que, enquanto existir ganância no mundo, socialismo real só mesmo entre membros de remanescentes monarquias – com dissolução do bloco soviético e a emblemática queda do ‘muro de Berlim’.
Mas como já dizia um vetusto sábio da minha fé e crença: “na mão de hasatan o pecador não se emenda”. Porque, então, bafejados pelos efeitos – não só estufa – delirantes e, até, alucinógenos, do superaquecimento da economia global e da ‘bolha’ fétida do sistema financeiro –; estão a pontificar de estadistas? A dominar o noticiário internacional recente, uma malta de elementos imaturos e/ou despreparados e inéptos para o poder máximo em uma nação. Os quais, embora especialistas em medidas de caráter populista e em construir imagens pessoais carismáticas junto aos carentes, já começaram – sob máscaras de simpatia e com surpreendente desenvoltura – a colocar suas “mangas”, ou melhor, garras de fora. Até porque são frutos de um antigo e crônico déficit educacional latino-americano -; de culturas e de uma escala de valores – se é que assim pode ser considerada – que em quase nada mudou ou evoluiu na última metade do século próximo passado.
O fato é que nós sessentões estarrecidos estamos a ver e a assistir – não de braços, mas, de ‘links’ cruzados – ao que, como diária o “Maluco Beleza” – “toca Raul!” –: “o bem e o mal de braços e abraços num romance astral”. Uma vez que, quem antes era em tempo integral ‘estilingue-giratório’ do sindicalismo ‘piqueteiro’, ora se transforma numa lustrosa vitrine de boutique, de grife, evidentemente. Quando, com grande desfaçatez, a tal da ganância à qual nos referimos acima – e, sempre ela “velha de guerra” – gesta nas cabeças a tal da “democracia bolivariana”, caracterizada entre outros acometimentos, por um insistente prurido de “plebiscitos e consultas populares” que lhes permitam adulterar Constituições e a corromper os postulados democráticos. Mas, não se enganem, invariavelmente, com o velado – às vezes nem tanto – propósito de perpetuação do seu grupo ideológico (?) no poder. Sob a égide de carcomida e obsoleta concepção de progresso e desenvolvimento -; no que seria seu modelo de governo: autocrático, monocrático, vaidoso e ufanista. Uma panacéia caudilhista para os males da renitente e funesta concentração de renda latinoamericana. E que, ora transforma uma de nossa embaixadas - quantas mais? - em hopedaria das pendengas alheias.
Arriscaríamos identificar - não precipitadamente - nisso tudo uma orquestração que está mudando, nessa parte do hemifério sul, a linha de conduta de Estados antes Constitucionais, em posturas de governo assumidamente aéticas com ações externas perigosamente pragmáticas porque engemonicas. Visto que são notoriamente descompromissados com escalas de valores ético e morais –; especialmente com os pontificados pelos preceitos de nossa tradição religiosa. E, provavelmente a coisa toda já esteja mais além e, até mesmo inclua uma tresloucada aventura de uma “edição revista e atualizada” da antiga URSS do “lado de baixo do equador”. Que, na versão latina eventualmente seria uma, digamos, “URSLB” – União das Repúblicas Socialistas Latinas Bolivarianas. É de arrepiar, mas os sinais de alerta estão aí por todos os lados.
Continuando, salientamos que essas amiudadas ingerências das tais "lideranças" - "Ó coitados", quanta carência nos respectivos quintais! - dessas nações em assuntos internos alheios apontam no sentido de que, esses grupos estão pouco se lixando para o Direito Internacional Público e para a opinião pública local. Essa fragilizada opinião pública, geralmente habilmente cooptada - em sua miséria - mediante assistencialismo paliativo, obras pontuais (que se arrastam indefinidamente), farta propaganda e de tentativas de calar a imprensa. Em outra frente, a interna, essa súcia de pretensos novos caudilhos - figura política que, enquanto no poder, legisla em causa própria para nele se perpetuar - labutam dioturnamente para conseguir o mais ampla e celeremente o aparelhamento e a partidarização das instituições republicanas.
Também vimos constatando que ultimamente ando um tano avesso ao sub-título deste ‘web log’ (blog), cuja definição propugna por uma visão global poética. Ocorre que, além da minha árdua luta renhida pela subsistência - minha e de minha nonagenária mãe -, os rumos preocupantes dados às nossas Representações Diplomáticas e Embaixadas estão a me incomodar enquanto cidadão e, não a me tornar, mas, a me fazer "estar um tanto ou quanto apoético”. Também, até quando essa nossa encanecida geração – herdeira que é “da última flor do Lácio inculta e bela” , como escreveu o Bilac – vai ter que repetir o conhecido verso: “Até quando iremos precisar de ridículos tiranos” –; como em outros tempos escreveu ‘um outro’ Caetano. Mas,é insofismável que vimos e vivemos tempos retrógados de tentativas de ressuscitação do contumaz caudilhismo nos trópicos. Quando, chegamos a 'esse’ (ou seria, esses?) Lula ("carne e unha" com a besta Ahmadinejad), ao Chávez, ao Morales, à Kirchner, ao Correa, à Bachelet -; e agora? ...Chega-se ao Zelaya.