Por George W de B Cavalcanti*
Por que olhar-me assim
como a entreabrir uma porta
e fazer-me tantas perguntas,
com teu olhar sem respostas?
Firmas essa tua intenção
no punho a apoiar o queixo
e atiças minha emoção e desejo,
admiro-te, comovo-me e te absorvo;
perambulo em meu eu e não te deixo.
Há uma estrela a brilhar em teu pulso
e quase revelo todo desejo, incontido
diante dessas promessas do teu corpo;
a depender apenas da alça do vestido.
Talvez a tua mão bata em minha porta
e os teus cabelos a desafiar o imaginário
consolide em meu viver um novo cenário,
com seu perfume a tornar real o meu sonho;
desafiar colocar, ao menos, cores primárias
na paleta e no pincel, colorir meu cotidiano.
Não me olhes com a implorar
que te resgate logo desse abismo,
dessa tua solidão quando sem panos
e no apelo de teus entreabertos lábios;
as lembrança que ora povoam a tua cama,
salvas de naufrágio, na ilha do teu travesseiro.
Piedade, não me fite tanto tempo assim,
poças de promessas são os teus olhos negros,
pois te farei vivenciar de novo a tua antiga sina
de tentar segurar ao vento o fugidio guarda-chuva;
e já molhada desnudar-se pouco a pouco para mim,
como uma aparição a caminhar sem rumo na campina.
Essa tua luta é pura angústia em branco e preto,
e de mãos postas somes até quedar-se lânguida
com os teus entreabertos lábios, como um vício;
quero olhar-te a descansar tuas pernas na parede.
Como a dormir no mais completo relaxamento,
para que tua beleza ao banho lave o meu vitral,
e as tuas pernas cruzadas me pareçam imensas,
face a tua real pequenez atrás da diáfana cortina.
Às vezes és menina, honrando com a tua beleza
as ondas de um mar calmo e a brincar na areia,
e de outra feita as curvas do teu corpo, eu penso,
são a moldura de dunas que o meu mar permeia;
e quando te voltas para o horizonte tão molhada
toma forma a intimação reprodutiva da natureza,
ou, vestida de todo, na espuma parece uma sereia.
Então, por que teimar em nunca vir a mim,
continuar a olhar-me como através de janelas
e a usar a tua distância como vestido de baile
enquanto o teu embarcadouro se desmonta,
a expor do molhe estrutura desalentadora;
que vista por dentro parece ser telescópica,
com sucessão de formas a avançar na areia.
Há um lugar qualquer a embarcar a solidão
em promissora nau que é a boa companhia,
e não contentar-se mais com o mesmo tom;
ainda que se escute o som de um acordeom
a derramar cores românticas de sua melodia.
Para ela eu crio verso como lampada acesa,
em diversos níveis e a ocupar todo o espaço
para que venha, então, como linda borboleta
que adeja por calor em cada degráu do vento;
enfim, beijar-me a luz e pousar à minha mesa.
(Ilustrações - fonte: Google Imagens)
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