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terça-feira, 2 de junho de 2009

Reflexões de Um Corpo Caloso



Por George W B Cavalcanti


S
imilar interativo com nossa casa comum,
Generosa mãe azul, esse ser que nos acolhe,
E, que nos inclui hemisféricos desde a gênese,
Como frenéticos gametas no bom afã bioquímico;
Porque cúmplices limiares reprodutivos justapostos,
Numa calosidade recôndita no mistério do criacionismo,
Somos semente e fruto, seus inquiridores e testemunhas,
A despeito dos que tem tratado desrespeitosamente a vida.

Rogo, ao menos mentalmente pararmos por instante a cena,
Alucinada pelo ritmo vertiginoso sempre mais e mais acelerado,
Que assim resulta impedir descobrir o que nos une a nós mesmos;
Num mergulho interior importa canalizar o meio pelo qual pensamos,
A massa sobre si dobrada ao racionalizar todo seu espaço disponível,
Na caixa craniana sua blindagem óssea contra as agressões possíveis.

Objeto do tempo sujeito a evento e contratempos do imponderável,
Guarda nessa consistente interconexão nosso pleno dimensionamento,
Tanto que permite seja esta uma evidência sutil da importância do calo;
Existencial ponto explícito ou o implícito elo das complementares metades,
Do cérebro, dos sonhos, do pleno viver dos néscios, dos fúteis e dos sábios,
Certamente que, mais significativo enquanto efeito de rude abrasão no viver.

Ressaltado é pela reação de tantos que pela verdade se sentem incomodados,
Nos calcanhares, nas mãos, nas cordas vocais, vocação do profeta é um calo,
Um ser cuja atemporal mensagem avessa a presunção é qual pedra no sapato,
Até porque o consistente intelecto enfeixa no corpo luz que flui do intimorato;
Consistente e insistente avalia o pertinente que aqui se não revelo desbravo,
O ser e o não ser, as maneiras de viver as chances do porvir mais sensato,
Que admoesta o ego que reduz ética e razão à mera condição de trapos.

Na cobrança do escrito ou do pregado pela voz com o martelo da fala,
Por ter firme suporte no aporte e somatório das plenas capacidades,
Assim é calejado pelos golpes dos cínicos e do desamor refratário,
Pela estupidez negligente da falácia na farsa do frívolo e fútil;
Pela areia contra a pele e pelo assédio dos falsos discursos,
Os quais tola e fatalmente desconstroem a sí no decurso,
Porque invariavelmente destrói a acalentada esperança,
Ao negar ternura e ao afugentar o futuro da criança.

Mas o que derrama poesia do olhar em cada gesto,
Sua condição a um só tempo inocente e forte,
É o que assim inspira escrever o verso,
Imaginativo modo de fazer pensar,
E de perenizar o seu dizer;
Até mesmo incomodar,
Por também ser,
Corpo caloso.

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