Por George W de B Cavalcanti*
I
Em coreografia vem novamente
o grupo fantasiado com fibras,
com máscaras, caras pintadas
adereços e roupas trançadas,
sobrepondo com propósito
a singela grandeza do passado.
II
Carregam consigo o desalinho
do traje em nebuloso caminho,
e seguem a exibir seus mistérios
a dançar com um vigor renovado,
na aldeia antiga e ameaçada
a construção étnica abandonada.
III
Guardiões da ancestral memória
mantém a sua bela cena aberta,
aprendem com multicores pássaros
a compor com a natureza generosa,
a selva a exibir seu belo espetáculo
e arte encenada com rústica estética.
IV
Gente de tradição e códigos
e a se divertir com sua mensagem
e, nada parece alterar o roteiro
de tamanha irreverente seriedade,
nos adereços de palha e plumas
de cores em simbólico disfarce.
V
Parecem querer roubar o som
com sua pequena e boa orquestra,
essa melodia elevada na voz grave
e na sua música centenária,
enquanto o cortejo policromático
em dança segue o seu passo.
VI
Para algum estranho ou outro
em meio a personagens solidários,
que parecem os respeitar sempre
as palhas e penas desses avatares,
que trazem à razão suas premissas
e expõem seu desafio mais ousado.
VII
Raro povo a provocar assombro
e nostalgia sem fazer alarde,
anônimo elemento em extinção
com seus preciosos instrumentos,
missionários de sua própria memória
em folguedos com brilho e glória.
VIII
Na tarde quente da terra ribeirinha
o horizonte espera debruçado,
a melodia que na alma é minha
e dos músicos mais achegados,
reunidos em derredor do fogo,
as flautas, os guizos e os tambores.
IX
Vida e amor em alegria radiosa
no calor da antiga maloca,
e o tom da chuvada é contraponto
ao suor de uma gente laboriosa,
que nos empresta o seu som
tanto tempo pelo vento espalhado.
X
Por um momento acreditei
que estivera com eles agrupado,
a navegar o rio do seu pensamento
sobre o que resta da grande floresta,
e compreendi a dimensão desse ícone
de valores que não quero abandonados.