Saudação

Olá! Este é um espaço de escrita criativa com um toque de humor, e expressão da minha vontade de me aproximar do poder revelador das palavras. Testemunho do meu envolvimento com a palavra com arte, e um jeito de dar vida à cultura que armazeno. Esta página é acessível (no modelo básico) também por dispositivo móvel. Esteja à vontade.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Estrelas a tremeluzir


Por George W de B Cavalcanti*


O momento é este, no qual o meu pensar encontra-se razoavelmente preservado ante o burburinho da feira livre que semanalmente se instala no entorno da minha morada. Resguardado por altas e pesadas portas de maciça madeira de lei desta casa antiga, na qual há mais de uma década habito, eu estou sentado em uma cadeira em forma de concha com assento de treliças tubulares de plástico encimado por fina almofada. Não é propriamente um conjunto muito estético e confortável, mas suficientemente aconchegante para acolher reflexões compulsivas em uma manhã de outono nordestino.

Por trás de mim está a parede externa que me separa do nosso quintal, na qual, a alguns palmos acima da minha cabeça estão dispostos os dois respectivos janelões com basculantes de vidro estampado. Relevos em forma de escamas nas vítreas lâminas que as torna quase foscas, mas, transparentes o suficiente para deixar passar em profusão a luz de mais um dia que se inicia neste rincão interiorano. Ainda reduto da impertinente “açucarocracia” alagoana, como um dos muitos renitentes feudos incrustrados nas entranhas deste país continental. Uma espécie secessão por uma cultura própria, e indiferente à modernidade ora alcançada pela maioria da federação que segue em afirmação da cidadania.

As paredes são grossas, algumas ainda originais e erguidas pela união de grandes e pesados tijolos com argamassa de barro massapê e óleo de baleia. Alvenaria disponível na época de sua construção, e muito provavelmente erguidas pelos escravos dos antigos senhores endinheirados da região. Mas, uma de suas vantagens é o maior isolamento térmico que proporcionam, para me preservar do forte calor que se insinua para o clima ameno que chega com as chuvadas do período invernoso que se aproxima. Quando então marcam presença pelo espaço doméstico as indefectíveis goteiras, a escorrer das grandes telhas de formato irregular. Visto que, sabidamente feitas proporcionais a variado formato de coxa - e daí o termo pejorativo popular - dos homens que então as moldavam; na ausência da disponibilidade das posteriores e padronizadas fôrmas de madeira. 

A persistente brancura da cal com cola recobre o espesso reboco até as bordas do telhado - este, sustentado por forte madeiramento já não incólume ao ataque de cupins - dá tom monocromático ao ambiente do cômodo em que estou. Assim, é muito favorável ao fulgor da luz do arrebol que me induz à reflexão e convida-me a escrever, quando envolvido desde cedinho pelo rebatimento luminoso das cúmplices paredes. Certamente esse inspirador conjunto de aspectos me protege um tanto do desconforto provocado pelo meu virtual “emparedamento” socioeconômico conjuntural. O qual, no dizer de um amigo meu, "ata-me pés e mãos" e inviabiliza muitos dos meus ideais e sonhos, há muito legitimamente acalentados. Uma espécie de garrote existencial atado pela rejeição da elite local aos frutos do intelecto; e, que traduz a mentalidade de uma gente que até parece esquecida no tempo em seus imobilizadores fatalismo, determinismo e conformismo. 

Também sei que, convivo intimamente desde pequenino com este meu tipo de aguçada percepção da realidade; que se me aflora e há tempos descrevo. Mesmo nessa espécie de coletivo assédio moral por discriminação passiva, impingida ao renovador pelo comportamento monitorador e manipulador das toscas lideranças; porque preconceituosas e grosseiras. Estas, a cada dia que passa mais rotas pela ação da roda da história; a qual, não gira para trás e nem no mesmo lugar. São identificaveis claramente nos redutos provincianos do nordeste brasileiro ainda refratário à equalização, ao ritmo de progresso e desenvolvimento que ora permeia o país e consolida os elevados interesses da nacionalidade. Há historicamente uma perversidade cínica e monstruosa nessa concentração de renda, e nesse estímulo à vassalagem em troca de benesses a contumazes bajuladores de sempre. Estes, que o são até por falta de alternativa econômica local para sustento das suas famílias e custeio da educação dos filhos. 

Aconteceu que, mediante o conhecimento acessado e saberes acumulados, esta percepção enseja-me apreender a revelações, estagnações, distorções e revoluções da realidade; tão sistêmica quanto universal e cósmica. É como se eu houvera nascido sem escamas na compreensão e no discernimento, que parecem a muitos estancar-lhes o pensar reflexivo e concomitante sobre o imanente e o transcendente. E, tenho a forte impressão de que isto me veio junto com os meus primeiros lampejos poéticos, por mim soletrados mesmo antes da minha juventude. Um ponto de vista, ao que me parece ainda pouco usual pelos patrícios locais, ainda avidamente imersos no trivial e corriqueiro; para o soberbo regozijo de alguns privilegiados inconsequentes. Esse abismo estrutural e cultural endêmico que solapa o social desde suas ideias e que rotineiramente me impõe alternância entre angústia a gratificação ao escrever. 

Em determinado momento das minhas inquirições a respeito da realidade sou levado ao exercitar filosófico na busca de causas primeiras e fins últimos desse estado de coisas. Até que, adoto a ousadia de uma perspectiva de equidistância das fogueiras das vaidades humanas, e me aproximo do encantamento da ternura que há na beleza das coisas coletivamente boas. Uma consequência natural da constatação da fractualidade que há na realidade sistêmica que plasma o meu entendimento. No sentido de que, similarmente aos luzeiros que rutilam no firmamento, somos usinas térmicas de processamento energético. Ou seja, essencialmente e à nossa maneira somos uma espécie de estrela que, tipicamente quando em estável equilíbrio existe unicamente para transmitir calor e luz, e, assim, favorecer o surgimento e manutenção da vida; muito principalmente da vida inteligente - e, vida em abundância. 

Metaforicamente colocando, decerto que analogamente nos diferenciamos quanto à idade, forma, condições, grandeza e efeito em determinado espaço e por um limitado tempo. No qual, repercute toda a nossa radiação luminosa ou que nos abrevia pela aproximação a algum sumidouro de energia e matéria; o cientificamente denominado buraco negro. Evidente que, existimos também para a possibilidade de termos durante a nossa vida a nossa própria espécie de sistema planetário humano com mais ou menos satélites naturais. São pessoas, outras formas de vida, objetos e realizações que nos orbitam, e que interagem conosco e entre si durante toda a nossa existência; nisto incluindo as eventuais visitas tangenciais ao nosso universo. Lembrando que, nessa dinâmica existencial não se exclui a choque com outras entidades do cosmos social; com, digamos, outra humana estrela que esteja instável e errante. 

Avalie – aplicando à mútua observação humana - o fenômeno oticamente constatado da intermitência do brilho das estrelas mediante o efeito da nossa atmosfera. Adite a esta o sentido emocional, quando se interpõe entre o sujeito e o objeto, entre o observador e o observado; enfim, entre estrelas que se observam mutuamente. Comumente o resultado obtido não é dos mais fidedignos e confiáveis, se não nos encontramos em um espaço exterior; quem sabe sentados em um pedra na lua, imaginemos. Porque, ao nível da superfície terrestre geralmente não nos percebemos como realmente somos; senão mutuamente apenas um brilho ofuscado da luminosidade alheia. Assim, entendemos que ente nós humanos, a depender dos nossos "ventos solares e de eventuais condições atmosféricas", o que captamos uns dos outros é apenas o tremeluzir das nossas mútuas emissões luminosas. 

Imagino que melhor seria se, em algum momento, todos tivessem a oportunidade e coragem de vivenciar e apreender tal ensejo de expansão de consciência. Até porque, nos parece que a maioria continua e muito provavelmente continuará a dormir para a realidade em expansão, enquanto vive; ou pelo menos imagina viver. Pelo que, seriam bisonhamente apenas uma estrela que não deu certo - ou, pelo menos não da melhor forma - no favorecimento da vida e da vida inteligente. Alguém que, apenas gravitou e que não internalizou a um momento como este no silêncio de paredes caiadas. Quando, por acaso ou busca, é favorecida a sensibilização e eclosão de melhores expectativas. E então, o contemplar mental do brilho de outra humana estrela; o seu tremeluzir, transcende o simples significado desta palavra elegante e cósmica.


(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Coral e trigo


Por George W de B Cavalcanti*


Vejo-me a correr em um campo dourado,
que mistura a luz do céu com o seu brilho,
e começo a bailar como alguém esperado;       
ao som de arpejo, ao solfejar de estribilho.

Sigo a busca por realizar meu antigo sonho,
de obter a acolhida no reduto da felicidade, 
após cruzar outro vale sombrio e medonho;   
beijo docemente no azul a eterna mocidade.

Deslizo os meus pés sobre as palhas do trigo,
a nutrida promessa do nosso pão do amanhã;
espero o anjo bom que virá para cear comigo.

E, transmitir sua quietude a meu pensamento,               
ao assegurar-me que ali adiante daquele trigal;
há inefável coral, de vozes leves como o vento.


 (Ilustrações - fonte: Google Imagens)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

De forma que não tomba


Por George W de B Cavalcanti*


A civilização caótica vai, estraçalhadora,
ao encontro de evento maior se achegar,
para projetar seus planos em um abismo,
pelo seu recorrente vício em contaminar;
no vacilar em enfrentamento ao desastre,
e noutro tanto, de um enredo sem noção.

Ouve ao menos a angústia dos teus dias,
que esvazia nesse tempo aos teu planos,
nesse esquema multiplicador de agonias;
e te consome na fogueira de desenganos,
à sofreguidão das tuas corridas semanas,
atropeladas nesse rude rito dos teus dias.

Escuta, o que parece ser teu tom de voz,
trêmula porque é hesitante e intermitente,
em repetição dos discursos assustadores,
proferidos à margem bem distante da foz,
no teu recorrer à guerras, insistentemente;
até que sem ter trigo te cales para sempre.

Vê que ainda há introspecção maravilhosa,
que dita ao coração bom ritmo e harmonia,
e quase numa mágica nos restaura a alegria,
a conceder ao decano sua oração fervorosa,
para alcançar a paz em espalhar a isonomia;
e sentir a luz te revelar uma Terra majestosa.

Por fim, estuda-a com redobrada paciência,
todo o esplendor escondido em cada verso,
que reúne no amor, a justiça, a fé e a ciência,
na maior das leis que regem todo o universo,
tão amplo e singelamente a nós apresentado;
no contorno da esfera a aspergir consciência.



(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Inspiração do limbo


Por George W de B Cavalcanti*


Já foi decantado em fel e dito por alguém,
que a beleza da mulher termina em tirania,
e, a doçura que um dia oferta em fina taça,
tem no fascínio um prenúncio de desgraça,
quando regras impõem o mando da rainha;
restar ao zangão o que dita nessa lei a vida.

Prossigo mesmo nesta literária alternância,
a rabiscar textos como se fora um remédio,
que seja bálsamo bom para dores de exílio;
enquanto observo o brilho fosco de contas,
que hoje solitário eu saudosamente dedilho,
num colar de cenas do meu passado antigo.

Que traz lembranças da mulher apaixonada,
de beleza que assaz lançou-me lenta vilania,
e pensar que tudo começou com um abraço,
forte laço de algodão naqueles alvos braços,
aos quais sem pensar ingênuo me entregaria;
viver a pena que o fogo da paixão reservaria.

Voluntário marinheiro de um barco sem leme,
juventude à deriva nas ondas daquele desejo,
por aquela sereia do meu sonho em espumas,
e a vento sem rumo pela plenitude do instinto,
nela absorto, abismado no encanto absorvido,
eu tão jovem em absoluto comando impulsivo.

Reprodução da espécie em piloto automático,
e juntos exploramos toda diversão do parque,
ao gozar de alegria havida em todo brinquedo,
e, a mãos dadas, plenos, felizes e refastelados,
era aperitivo, antepasto, canapés e sobremesa;
moldura ao principal servido à baixela no leito.

Tudo bem despido, a beleza não era só enfeite,
e no frenesi das bocas açoitamos tanto a louça,
até ser creme de leite, a minha seiva e da moça,
e hoje só lembranças vem acudir-me ao relento,
a recordar o afeto que não mais é-nos ofertado;
vaga o meu ânimo, e tenta refazer-se a contento. 



(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Classe média abaixo da média



Por George W de B Cavalcanti*


Quando o cidadão brasileiro maduro, consciente e razoavelmente esclarecido assiste ao noticiário nacional nesses tempos de ascensão do que o governo convencionou chamar de "a nova classe média", não tem outra reação senão quedar-se boquiaberto, estarrecido e reflexivo diante do que assiste. E, esse cidadão assim reage porque é o remanesceste de uma geração que dispõe de parâmetros consistentes o suficiente para fazer a crítica dessa mesma realidade. Ou seja, o faz pelo domínio de conteúdos, o suficiente para fazer a critica do respectivo conhecimento científico envolvido. O que, implicitamente parece faltar ao contingente populacional emergente na atualidade econômica brasileira. A coisa toda ao nosso entender - mas, a não aceitar - está a tomar nesses últimos oito anos proporções de um barbarismo nunca antes imaginado, nem pelos nossos melhores ficcionistas de tragédia e terror.

O que de chocante nos parece que caracteriza particularmente essa população emergente é uma crescente violência; e porque não dizer, um desvario vertiginoso. De descaminho, de vício, de grosseria e turculência; na massificação e banalização de comportamentos - antes inimagináveis - para a nossa concepção de um país razoavelmente civilizado. Isto porque, é um festival de agressão, violência e crime para todos os lados. Tanto que, o cidadão ordeiro e trabalhador já não sente qualquer segurança ao sair às ruas pelo risco iminente de se tornar uma vítima. E o que é pior, nem mesmo quando está dentro de sua própria casa; onde se sente como um refém da bandidagem e dos "zumbis" drogados que infestam as cidades, e já ao campo também.

Aí nos vem o poder, o governo, as autoridades, sem fazer o elementar e básico da lição de casa; o que seria a análise das raízes dessa problemática toda. E, principalmente, a autocrítica do sistema em suas condutas de vícios históricos; um passo inicial e intransferível para o real equacionamento e adoção de soluções eficientes, eficazes e efetivas. Mas, ao que evidenciam, isto não entra em cogitação porque tangencia a questão da ética; e, ética seria apenas para discurso de campanha eleitoral. Porque, ética na prática equivaleria a evasão de votos e perda de mandato na próxima eleição. Perda de oligopólio e de dinheiro; e, por voto e dinheiro parecem estar dispostos a vender não só a alma ao diabo, mas, até a própria mãe ao inimigo. Pelo que, segue o país dilacerado por uma ignorância que atrasa nosso próprio desenvolvimento.

É um volume de crime por motivo banal e/ou fútil que não acaba mais. E o que é pior, a cada dia se avoluma em tipificação e quantidade. Destacando-se a agressão à mulher - uma a cada dois minutos segundo estatísticas oficiais - e a morte de criança por abandono e agressão; o que inclui largar bebês em lugar ermo, em lixeira, agredir com socos e, até mesmo, sacudir pela janela de prédio de apartamento. São atos os mais hediondos e aviltantes à condição humana e à vida; quanto mais à uma sociedade que se pretenda civilizada. Como podemos viver e conviver com tanta inépcia diante dessa problemática, uma vez que a mesma só se diversifica e se avoluma? Porque, o que se vê nos poderes é só "cara de paisagem", restando ao povo tentar pagar o seu carnê de plano funerário.

Então, o que é que há, quais são as projeções dos senhores do poder? Porque governar não é só segurar a inflação e promover o consumo, enquanto se continua a mentir em campanha eleitoral sobre as melhorias na saúde pública. Para depois da eleição fugir à responsabilidade de assumir o dito no nível federal;  ao vetar a proposta de reservar 10% do PIB para a saúde dessa mesma, dita, "nova classe média". A qual, longe está de poder pagar a um desses onerosos "plano de saúde particular"; em geral verdadeiras arapucas não fiscalizadas pelos poderes. E que, com propaganda enganosa e contrato cheio de ciladas e "pegadinhas", lesam o usuário com um atendimento nivelado por baixo para maximização de lucro próprio. E, ninguém a responder pelos milhares de órfãos via serviço público de saúde.

Não vemos serem apresentados, pelos poderes de plantão, quaisquer compromissos ou metas estatísticas para a regeneração dessa situação a níveis minimamente razoáveis. Para a devida correção, de conduta e de rumo, para esse enorme contingente advindo de uma realidade periférica cultural e econômica. O qual, evidentemente, se debate às cegas existencial e socialmente em detrimento próprio e do conjunto da nacionalidade. E que, por não possuir uma razoável base educacional e intelectual para conviver civilizadamente com os novos tempos, faz o cenário de violência. A corrupção e degradação da condição humana que assim ora se apresenta fala por si mesma. É o povo que, sem foro privilegiado e sem legislar em causa própria, segue a sentir ser "curtido" o próprio couro.

Deixo, portanto, para outra postagem a pertinente abordagem sobre o que entendemos ser os equívocos da classe política e do nosso povo em geral. E, as possíveis alternativas de ideologia e de atitudes engajadas em projetos inteligentes, realistas e honestos. Tais que nos dotem a todos, por exemplo, de uma Previdência Social razoável a curto e médio prazo; e não com estádios de futebol - as tais "arenas" no linguajar da moda - e, que nos remetem lastimavelmente à panis et circencis (pão e circo). Frutos podres da negociata obscura do futebol profissional internacional com os nossos deslumbrados do poder; que também por isso transparecem não ter maturidade política e administrativa. E nem bom senso e preparo; ao não priorizar o uso do dinheiro público no sanar das graves premências nacionais.

Se não, então para que tanto dinossauro de concreto que, mesmo supervalorizados em sua utilização econômica e rentabilidade financeira, só se pagarão do dinheiro investido em suas construções nos próximos cento e oitenta anos em média - segundo as previsões de especialistas no assunto. Assim, para a devida análise e reflexão, especialmente dos que sejam educacional e intelectualmente a verdadeira classe média, concluo esta com uma citação de um grande e consagrado intelectual francês da atualidade. Abordagem esta, certamente fundamentada no conhecimento acumulado de eminentes pensadores pretéritos; quanto à questão da ascensão de camadas sociais a novos patamares econômicos sem o benefício do devido lastro educacional e intelectual. Então vejamos.

O Professor Voltaire Schilling em suas considerações sobre a ascensão das camadas inferiores nos diz que, a coisa piora ainda mais, segundo ele, porque a mescla social, amplamente praticada na idade moderna, estimulada pela "superstição da igualdade entre os homens", promove a liberação dos instintos vis das camadas sociais inferiores. Contamina-se assim o ambiente com os vapores do ressentimento, do descontentamento, do impulso destruidor, anárquico e niilista. Forma-se então um tipo de "vontade geral" que, partindo das massas, se joga, se dirige contra a escolha, contra os direitos de qualquer casta, fazendo por submeter mesmo os privilegiados, envergonhando-os por deterem em outros tempos suas justificadas prerrogativas especiais. O homem especial, o excepcional, o fora de série, não só vê-se perseguido como também é forçado a introjetar algum tipo de culpa, condenando a si mesmo por não ser medíocre, por não ter uma alma de rebanho.

(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

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