Por George W de B Cavalcanti*
Quando o cidadão brasileiro maduro, consciente e razoavelmente esclarecido assiste ao noticiário nacional nesses tempos de ascensão do que o governo convencionou chamar de "a nova classe média", não tem outra reação senão quedar-se boquiaberto, estarrecido e reflexivo diante do que assiste. E, esse cidadão assim reage porque é o remanesceste de uma geração que dispõe de parâmetros consistentes o suficiente para fazer a crítica dessa mesma realidade. Ou seja, o faz pelo domínio de conteúdos, o suficiente para fazer a critica do respectivo conhecimento científico envolvido. O que, implicitamente parece faltar ao contingente populacional emergente na atualidade econômica brasileira. A coisa toda ao nosso entender - mas, a não aceitar - está a tomar nesses últimos oito anos proporções de um barbarismo nunca antes imaginado, nem pelos nossos melhores ficcionistas de tragédia e terror.
O que de chocante nos parece que caracteriza particularmente essa população emergente é uma
crescente violência; e porque não dizer, um desvario vertiginoso. De descaminho, de vício, de grosseria e turculência; na massificação e banalização de comportamentos - antes inimagináveis -
para a nossa concepção de um país razoavelmente civilizado. Isto porque, é um
festival de agressão, violência e crime para todos os lados. Tanto que, o
cidadão ordeiro e trabalhador já não sente qualquer segurança ao sair às ruas
pelo risco iminente de se tornar uma vítima. E o que é pior, nem mesmo quando
está dentro de sua própria casa; onde se sente como um refém da bandidagem e
dos "zumbis" drogados que infestam as cidades, e já ao campo também.
Aí nos vem o poder, o governo, as autoridades, sem fazer o elementar e
básico da lição de casa; o que seria a análise das raízes dessa problemática
toda. E, principalmente, a autocrítica do sistema em suas condutas de vícios
históricos; um passo inicial e intransferível para o real equacionamento e
adoção de soluções eficientes, eficazes e efetivas. Mas, ao que evidenciam,
isto não entra em cogitação porque tangencia a questão da ética; e, ética seria apenas para
discurso de campanha eleitoral. Porque, ética na prática equivaleria a evasão de votos e
perda de mandato na próxima eleição. Perda de oligopólio e de dinheiro; e, por
voto e dinheiro parecem estar dispostos a vender não só a alma ao diabo, mas,
até a própria mãe ao inimigo. Pelo que, segue o país dilacerado por uma ignorância que atrasa nosso próprio desenvolvimento.
É um volume de crime por motivo banal e/ou fútil que não acaba mais. E o que
é pior, a cada dia se avoluma em tipificação e quantidade. Destacando-se
a agressão à mulher - uma a cada dois minutos segundo estatísticas oficiais - e a
morte de criança por abandono e agressão; o que inclui largar bebês em lugar ermo, em
lixeira, agredir com socos e, até mesmo, sacudir pela janela de prédio de
apartamento. São atos os mais hediondos e aviltantes à condição humana e à vida; quanto mais
à uma sociedade que se pretenda civilizada. Como podemos viver e conviver com
tanta inépcia diante dessa problemática, uma vez que a mesma só se diversifica e
se avoluma? Porque, o que se vê nos poderes é só "cara de paisagem", restando ao povo tentar pagar o seu carnê de plano funerário.
Então, o que é que há, quais são as projeções dos senhores do poder? Porque
governar não é só segurar a inflação e promover o consumo, enquanto se continua a mentir em
campanha eleitoral sobre as melhorias na saúde pública. Para depois da eleição fugir à responsabilidade
de assumir o dito no nível federal; ao vetar a proposta de reservar 10% do PIB para a saúde dessa
mesma, dita, "nova classe média". A qual, longe está de poder pagar
a um desses onerosos "plano de saúde particular"; em geral verdadeiras arapucas
não fiscalizadas pelos poderes. E que, com propaganda enganosa e contrato cheio
de ciladas e "pegadinhas", lesam o usuário com um atendimento nivelado por baixo para maximização de lucro próprio. E, ninguém a responder pelos milhares de órfãos via serviço público de saúde.
Não vemos serem apresentados, pelos poderes de plantão, quaisquer
compromissos ou metas estatísticas para a regeneração dessa situação a níveis
minimamente razoáveis. Para a devida correção, de conduta e de rumo, para esse
enorme contingente advindo de uma realidade periférica cultural e econômica. O qual, evidentemente, se debate às cegas existencial e socialmente em detrimento próprio e
do conjunto da nacionalidade. E que, por não possuir uma razoável base educacional e
intelectual para conviver civilizadamente com os novos tempos, faz o cenário de
violência. A corrupção e degradação da condição humana que assim ora se apresenta fala por
si mesma. É o povo que, sem foro privilegiado e sem legislar em causa
própria, segue a sentir ser "curtido" o próprio couro.
Deixo, portanto, para outra postagem a pertinente abordagem sobre o que entendemos
ser os equívocos da classe política e do nosso povo em geral. E, as possíveis
alternativas de ideologia e de atitudes engajadas em projetos inteligentes, realistas e honestos. Tais que nos dotem a todos, por exemplo, de uma Previdência Social
razoável a curto e médio prazo; e não com estádios de futebol - as tais
"arenas" no linguajar da moda - e, que nos remetem lastimavelmente à panis
et circencis (pão e circo). Frutos podres da negociata obscura do futebol profissional internacional com
os nossos deslumbrados do poder; que também por isso transparecem não ter maturidade política e administrativa. E nem bom senso e
preparo; ao não priorizar o uso do dinheiro público no sanar das graves premências nacionais.
Se não, então para que tanto dinossauro de concreto que, mesmo supervalorizados em sua utilização econômica e rentabilidade financeira, só se pagarão do dinheiro investido em suas
construções nos próximos cento e oitenta anos em média - segundo as previsões
de especialistas no assunto. Assim, para a devida análise e reflexão, especialmente dos que sejam educacional e intelectualmente a verdadeira classe média, concluo esta com
uma citação de um grande e consagrado intelectual francês da atualidade. Abordagem esta, certamente fundamentada no conhecimento acumulado de eminentes pensadores
pretéritos; quanto à questão da ascensão de camadas sociais a novos patamares
econômicos sem o benefício do devido lastro educacional e intelectual. Então vejamos.
O Professor Voltaire Schilling em suas considerações sobre a ascensão das camadas inferiores nos diz que, a coisa piora ainda mais, segundo ele, porque a mescla social, amplamente praticada na idade moderna, estimulada pela "superstição da igualdade entre os homens", promove a liberação dos instintos vis das camadas sociais inferiores. Contamina-se assim o ambiente com os vapores do ressentimento, do descontentamento, do impulso destruidor, anárquico e niilista. Forma-se então um tipo de "vontade geral" que, partindo das massas, se joga, se dirige contra a escolha, contra os direitos de qualquer casta, fazendo por submeter mesmo os privilegiados, envergonhando-os por deterem em outros tempos suas justificadas prerrogativas especiais. O homem especial, o excepcional, o fora de série, não só vê-se perseguido como também é forçado a introjetar algum tipo de culpa, condenando a si mesmo por não ser medíocre, por não ter uma alma de rebanho.
(Ilustrações - fonte: Google Imagens)
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