Por George W de B Cavalcanti*
(texto atualizado em 16/02/2012 as 09:22)
Saudade, saudade...
Sensação possante,
envolvente e impactante;
o poder de uma emoção tardia.
Nem sempre relembrar é viver,
às vezes apenas sofrer, de novo;
se o cotidiano não a favorece
com uma dose maior de alegria.
Assim recorremos a ela
quase sempre sem perceber,
outras vezes conscientemente
em saudade ainda mais antiga
buscamos conforto e guarida;
como agora, ao relembrar Gilda.
Nos conhecemos na galeria
na convenção da frente política,
com as limitações de antanho;
as quais, ainda agora se mantém.
Mas, sei que no quesito virtudes
eramos intensos, e grandes amigos;
superlativos em plena adversidade
pelo forte vigor em nossas atitudes.
Cidadã inteligente,
consciente e politizada,
loquaz e sem cerimônia.
Podia ser Josefa ou Antonia
mas, era a minha amiga Gilda;
a aguerrida líder comunitária
Mulher de cor, negra vivaz,
brasileira do povo, lutadora,
a ensinar-me pela convivência
que, em termos de humanidade
não existem raças e sim espécie;
com mais ou menos oportunidade.
Era extremosa ao incutir nos filhos
amor à dignidade, vitória no saber,
pela valorização dos seus estudos,
para a graduação e prosperidade;
um belo exemplo de superação
para toda a negra comunidade.
Certo dia saímos
num feriado qualquer
em meu modesto carro;
dinheiro curto e ideais longos
e, combustível sempre quotizado.
A compartilhar outra vez
a alegria cotidiana barata
levamos suas crianças à praia;
a sorrir e envolvidos pelo afeto
que nem mesmo o tempo desgasta.
Cena que relembro embevecido,
com minha memória em ousadia,
neste passeio da alma pelo tempo;
sempre a fazer-me beber o novo
na fonte, o amargo-doce da vida.
De outra feita, nós dois
fomos pelos botecos da orla
a pesquisar os melhores petiscos;
e comida de panela para degustar
com a pureza cúmplice da amizade.
E, em meio ao diálogo engajado,
comentar a nova música popular
ou assistir ao folclore apresentado.
Até entre goles havia forte reflexão
ao discutir a cena política de então;
esperanças de melhor sociedade,
entre etílicos arroubos de emoção.
Mesmo em meio àquela realidade,
o fruto podre de presunçosa elite
inveterada e contumaz excludente,
a resistência brilhava como ouro;
e havia memoráveis momentos
para guardarmos como tesouro.
Aquele amanhecer junto ao mar
em roda de samba no varadouro,
a Gilda leve, solta e livre a cantar
senhora de si de frente para o sol,
naquele dia que pegava no tranco;
quando ela banhada pela maresia
me dizia: "vamos levar esse povo
à vitória, meu irmãozinho branco".
(Ilustrações - fonte: Google Imagens)
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