Saudação

Olá! Este é um espaço de escrita criativa com um toque de humor, e expressão da minha vontade de me aproximar do poder revelador das palavras. Testemunho do meu envolvimento com a palavra com arte, e um jeito de dar vida à cultura que armazeno. Esta página é acessível (no modelo básico) também por dispositivo móvel. Esteja à vontade.

domingo, 21 de outubro de 2012

Bordejurbe



 Por George W de B Cavalcanti*


És cidade de calçada longa
que vomita na praia asfalto
e, no mato, defeca cimento;
armado o concreto é assalto.  

Aridez que se enche de tudo,
tentando desfazer o seu tédio
que embosca a cada esquina;  
e, se esconde em cada prédio.

Visão dupla e soneto bêbado
lê-se nas duplicadas quadras
e em  outro tanto de tercetos;
dizer o que ela sente e pensa.

No anonimato olhares falam
mesmo no rosto mais sisudo,
face a face ninguém é calado;
mundo feroz e ângulo obtuso.

Açoita a velha ninfeta, afoita
grita sozinha e de som povoa;
artificial, escondida na moita.

Nesse reduto, lerdeza maluca,
agora desfila sua pele tatuada;
a lamber desde o pelo da nuca.    

Tudo que conta parece lorota,
mas a verdade planta semente;
é ponta de salto e bico de bota.

Vai lá entender, essa diferente
congregação, chique no brega;
digo até logo, e sigo em frente.




(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

domingo, 14 de outubro de 2012

Mãe, voz e inspiração



Por George W de B Cavalcanti* 
(texto, corrigido em 15.10.2012 ás 08:33)



Amparada ela chegou bem perto de mim
com os seus passinhos firmes, mas, curtos,
a trazer-me a minha mais bela lição de vida;
pura emoção apoiada em bengala cor de rosa.

Minha mãe, anjo junto a quem tanto me dedico,
mas não consigo definir nessa hora sua tanta luz,
que há em sua gentil e aguerrida vontade de viver;
na rotina que tudo envolve em revelação e mistério.

Explícita angústia e esperança nessa chama que,
nos impulsiona, e consome nossos tão incertos dias,
em que carrego um oceano de emoção dentro do peito;
e a transbordar quando reza de mãos postas em seu leito.

Frágil e imensurável em seu vigor é minha mãezinha,
preciosa e única, é o pleno milagre da fragilidade altiva
na lucidez participativa, e bom ânimo de viver plena vida;
privilégio e bênção recebo em cuidar da minha mãe querida.

E, vivo essa doce rotina por entre os espigões da cidade,
a me desdobrar para tentar atender a tudo aqui, ali e acolá,
na esperança de que eu tenha também na velhice a dignidade;
de quem hoje eu conduzo mas antes me levou pela mão na lida.

Assim, não sei se estes meus versos ficaram tão bons ou precisos,
nessa busca pelo cuidar da ética do humano e compaixão pela vida,
com poesia livre e avessa à métrica, porque não sou alfaiate de rimas;
importa apenas ter papel e tinta, e a aquosa emoção como um rio vinda.

Perdoe-me minha mãe as vezes em que tranco-me em meu quarto,
para tentar esconder minhas recorrentes lágrimas, assim escorridas,
toda vez em que chegas curvada e lenta, a relevar tal peso do tempo;
e satisfeita relata procedimentos que garantem o bem estar em seu dia.

Há uma brisa parceira da tarde e que nos inspira com sua luz tardia,
benesse da glória e refrigério da alma do filho teu que não foge a luta,
e que sinceramente busca ao olhos do Eteno a graça e bênção do justo;
viver com honradez o amor, a fé e o bom combate, fonte da nossa alegria.





  

(Foto: Minha Mãe Caminhando - ilustrações: Google Imagens)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Jardineiro pedagógico (reflexões, edição 12)



 Por George W de B Cavalcanti*

  • "Jardineiro do universo, eu sou" ~ Quanto ao amor ser a energia vital mais poderosa do mundo não há nenhuma dúvida quanto a isto. Fascinante é perceber pela vivência que, ao acolher e abraçar intimamente esta verdade, as pessoas tornam-se capazes de ensinar na prática o que é o amor. E, seria mesmo uma pena que essa humanidade não tivesse a chance de, assim, tornar-se jardineira do universo. (09/09/2012)  
  • Pela alta moral ~ O humilde de espírito e rico de caráter é aquele que não ofende pela sua superioridade. (12.09.2012) 
  • Apenas negócios ~ A relativização da ética leva invariavelmente à perda dos laços cívicos e familiares, em um mundo cada vez mais anônimo nos negócios e nas relações sociais. (13.09.2012) 
  • Lacrimosa verdade ~ As lágrimas são da mesma cor, não importa a cor de quem as chore; nisto elas são de uma verdade cristalina. (14.09.2012) 
  • Imensurável justiça ~ Quem buscar sinceramente parecer justo aos olhos do Eterno há que ter o coração do tamanho do mundo. (15.09.2012) 
  • Conflito custa caro ~ Historicamente o consumidor brasileiro é vilipendiado e escorraçado no pós-venda pelas empresas de produtos e serviços neste país. O que, evidentemente, ocorre sob o beneplácito dos poderes públicos para com o enorme prejuízo que isto causa à qualidade de vida do cidadão contribuinte e à nossa economia como um todo. Um perdulário conflito. (16.09.2012) 
  • Utopia fracassada ~ A república e a democracia fracassam no coronelismo e nas oligarquias a cada novas eleições - majoritárias e/ou proporcionais - levadas a efeito no Brasil. Falta cortar, pela raiz, a nossa recorrência do famigerado "coronelismo de touceira". (17.09.2012). 
  • Indústria do combate ao crime ~ Do jeito que a legislação penal brasileira - principalmente o código de execuções - dá regalias a vagabundo e a bandido só falta mesmo é eles exigirem escolta policial para suas ações criminosas. Consolida-se em toda a sociedade a sensação de que, combater de verdade o crime no Brasil não é bom para "os negócios". (18.09.2012) 
  • O destemor da arte ~ O pensador e escritor não deve se preocupar se os holofotes públicos lançam sobre si um olhar hostil e obsessivamente judicioso. Jamais, deve condenar-se a observar o mundo com a omissão dos medíocres e o silêncio dos covardes. (19.09.212) 
  • Desafiadora ansiedade ~ Existe ansiedades das quais nunca nos recuperamos; vem para ficar em nossa vida e são desafios permanentes ao nosso bem estar. (20.09.2012)  
  • Cultura de alienação e modismo ~ As evidências apontam que, a cada dia é mais utópico contar, na prática, com um legítimo interesse amoroso - seja lá de pessoas ou de instituições. E, pior ainda se o indivíduo tiver alguma tendência a ser pensador, poeta e/ou escritor. (21.09.2012) 
  • Desde que trocaram 'nós' por 'a gente' ~ Ampliou-se neste país o parvo entendimento de que a preeminência do intelecto é grave anomalia e fator de subversão, e seu cultor um perigoso insurgente. Ser feliz é não remar contra a maré da consagração da mediocridade; essa sim, considerada válida e inserida no contexto. (23.09.2012) 
  • Uns e outros ~ Por mais que avancem a teologia, a filosofia e a tecnologia, os clãs e as castas continuarão a existir - enquanto causa e efeito; o que os une também os separa. (30.09.2012) 
  • Insensata ignorância ~ Onde pontifica a ignorância - às vezes à revelia da economia -, leis sem poder para obrigar o seu cumprimento não funcionam. Porque o mal educado - às vezes à revelia da posição social - não confia na lei, confia na impunidade. (01.10. 2012) 
  • Brasilianice ~ Em matéria de transplante, piano piano capta-se órgãos. (03.10. 2012) 
  • Fique esperto ~ Você não pode dormir sem estar acordado. (02.10. 2012) 
  • Velhice vulnerável ~ Se o velho tem dinheiro, mas, não tem quem cuide dele, ele é vitima de violência. (03.10.2012) 
  • Amnésia política ~ O abandono à fragilização do idoso no Brasil só interessa a quem está praticando essa violência. (04.10.2012) 
  • Ao idoso com justiça ~ Deve ser criado um artigo no nosso Código Penal no qual o crime contra o idoso - de abandono ou de violência física e/ou emocional - seja considerado crime hediondo (05.10.2012) 
  • Indiscrição pedagógica ~ Quando um pedagogo carente diz: "Ajude-me já!", não é uma questão de cacófato ou de micção, é falta de dinheiro mesmo. (06.10.2012)



(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Os dois 'horários Adams'


*Em espera para aparecer no próximo "Guia Eleitoral"

Por George W de B Cavalcanti*


Todo mundo tem o seu 'dia de fúria', tanto que até o mais santo dos homens teve o seu; segundo relatam os Evangelhos. E, eu, depois de tomar calmantes e devorar um pacote de biscoitos wafers acompanhado de grandes goles de um do mais famosos refrigerante-intoxicante internacional, criei "saco" o suficiente para escrever este texto. Uma vez que a minha atual rotina de vida deixa sua marca molhada por onde passa; o mais puro rastro de caracol.

Mas vamos ao que interessa. Ou melhor, ao que não interessa, tanto que nos vemos na obrigação de dar esse chute literário na esperança de que atinja outros sacos daqui e de alhures. Enquanto que, para ser politicamente correto e sem discriminação de gênero, também o disponibilizamos a atingir a úteros e ovários de quem de direito ou interessar possa. Quem sabe, ansiosas em experimentar o sentir da sensação de respectivo 'profundo impacto' do encaixar certeiro nos "países baixos" masculinos.

Mas 'o dado concreto é que', naquela espelunca onde anualmente uma horda de matutos ensandecidos derrubava o muro frontal em sofreguidão para assistir a 'Paixão de Cristo'; foi nela, espelunca, onde eu assisti as minha primeiras matinês de cinema. A tal abafada e desconfortável sala de projeção era antecedida por um grotesco pórtico onde lia-se o seu nada modesto nome: "Cine Fênix". Pelo que soubera, havia erguido-se das cinzas da falência algumas vezes, mas, nunca o assistira alçar tamanhas alturas que o colocasse em perigo de consumir-se ao calor do sol.

Contudo oferecia umas mordomias - pagas, evidentemente - que, por sua utilidade e importância em horário diante da grande tela, permanecem populares e imprescindíveis a qualquer ambiente de reprodução cinematográfica que se prese: a pipoca quentinha e o baleiro de chocolates e chicletes. Então, estes últimos eram os meus preferidos, porque além de muito mais baratos, eu adorava abrir a tampinha da pequena caixa rosa, branca e preta - cuidadosamente, e com a ponta da unha - só para ver aquele misterioso número impresso em uma das orelhas internas da embalagem. Nunca cheguei a saber o seu significado, mas pouco me importava; eu curtia aquilo com verdadeiro frisson.

Fazia aquela rústica porém saborosa pastilha, retangular e sem arestas, deslizar por toda a extensão do meu palato, para depois - ao ritmo do roteiro do filme - ir quebrando com os dentes a respectiva alva e crocante cobertura; como quem fragmenta aos poucos a louça de um recipiente com deliciosa essência. Depois de sincronizados os ritmos do enredo assistido e da minha mastigação, tudo era passado; a guloseima volatizava-se e o que restava era uma persistente e insípida massa de borracha a grudar-nos aos dentes. E sobre a qual se descarregava todo o encantamento, ou, o contrariado revide da decepção ao gritar em uníssono com a plateia: "úúú, quero o meu dinheiro"! Este foi o meu primeiro 'horário Adams'.

Muitos anos mais tarde criaram um tal de horário político-eleitoral obrigatório; o famigerado "Guia Eleitoral" - e, sua ligação com algum grau de cegueira foi imediata. Trabalharam a coisa para o nome de Horário Eleitoral, Horário Político - ou, coisa assim. Porque sempre evitei decorar seu título - a não ser quando, em meu íntimo, apresentou-se indefectível como 'horário Adams", também. E por que este epíteto a um tão singelo e patriótico sofisma da educação político-eleitoral? Ora, porque evidentemente o dito cujo é insalubre, tanto para a mídia quanto para o seu público radiouvinte e/ou telespectador; face às suas assombrosas personagens e seus disparates. O que piora a cada novo pleito político-eleitoral, com uma profusão cada vez maior de personagens enquadráveis nas classificações lombrosianas, para se dizer o mínimo.

Em uma observação mais acurada dessa pantomima eleitoreira midiática conclui-se que, está eivada de vícios e manhas para lograr sacar a 'carta da manga' que lhe garante tal grotesca encenação. Percebe-se o total despudor em pegar todo tipo de candidato - uns a laço e outros quiçá a dente de cachorro  - e registrá-los como tal para fins únicos da matemática do coeficiente. São tipos os mais anônimos e esquisitos e, até, hilários possíveis; chegando mesmo às raias da ficção e do inimaginável. Assombrados, assombrosos, cômicos, mas, pouco político, como a 'família do Frankestein' -, e a essa imbricação política denominei de: 'segundo horário Adams'. Ah uma caixinha do velho e bom chicles nesses momentos! Para aliviar a tensão, ao assistir a esse 'cinema mudo hi-tec', no qual os verdadeiros atores só são apresentados nas últimas cenas do 'filminho'; no encerramento da sessão. 


The End



*A partir da esquerda: o "Valério", no ombro do "cartola" "a mão" - de um "mensaleiro" (amputada pelo STF) -, e, ao centro, um típico remanescente dos "anões do orçamento"

(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

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