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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Os dois 'horários Adams'


*Em espera para aparecer no próximo "Guia Eleitoral"

Por George W de B Cavalcanti*


Todo mundo tem o seu 'dia de fúria', tanto que até o mais santo dos homens teve o seu; segundo relatam os Evangelhos. E, eu, depois de tomar calmantes e devorar um pacote de biscoitos wafers acompanhado de grandes goles de um do mais famosos refrigerante-intoxicante internacional, criei "saco" o suficiente para escrever este texto. Uma vez que a minha atual rotina de vida deixa sua marca molhada por onde passa; o mais puro rastro de caracol.

Mas vamos ao que interessa. Ou melhor, ao que não interessa, tanto que nos vemos na obrigação de dar esse chute literário na esperança de que atinja outros sacos daqui e de alhures. Enquanto que, para ser politicamente correto e sem discriminação de gênero, também o disponibilizamos a atingir a úteros e ovários de quem de direito ou interessar possa. Quem sabe, ansiosas em experimentar o sentir da sensação de respectivo 'profundo impacto' do encaixar certeiro nos "países baixos" masculinos.

Mas 'o dado concreto é que', naquela espelunca onde anualmente uma horda de matutos ensandecidos derrubava o muro frontal em sofreguidão para assistir a 'Paixão de Cristo'; foi nela, espelunca, onde eu assisti as minha primeiras matinês de cinema. A tal abafada e desconfortável sala de projeção era antecedida por um grotesco pórtico onde lia-se o seu nada modesto nome: "Cine Fênix". Pelo que soubera, havia erguido-se das cinzas da falência algumas vezes, mas, nunca o assistira alçar tamanhas alturas que o colocasse em perigo de consumir-se ao calor do sol.

Contudo oferecia umas mordomias - pagas, evidentemente - que, por sua utilidade e importância em horário diante da grande tela, permanecem populares e imprescindíveis a qualquer ambiente de reprodução cinematográfica que se prese: a pipoca quentinha e o baleiro de chocolates e chicletes. Então, estes últimos eram os meus preferidos, porque além de muito mais baratos, eu adorava abrir a tampinha da pequena caixa rosa, branca e preta - cuidadosamente, e com a ponta da unha - só para ver aquele misterioso número impresso em uma das orelhas internas da embalagem. Nunca cheguei a saber o seu significado, mas pouco me importava; eu curtia aquilo com verdadeiro frisson.

Fazia aquela rústica porém saborosa pastilha, retangular e sem arestas, deslizar por toda a extensão do meu palato, para depois - ao ritmo do roteiro do filme - ir quebrando com os dentes a respectiva alva e crocante cobertura; como quem fragmenta aos poucos a louça de um recipiente com deliciosa essência. Depois de sincronizados os ritmos do enredo assistido e da minha mastigação, tudo era passado; a guloseima volatizava-se e o que restava era uma persistente e insípida massa de borracha a grudar-nos aos dentes. E sobre a qual se descarregava todo o encantamento, ou, o contrariado revide da decepção ao gritar em uníssono com a plateia: "úúú, quero o meu dinheiro"! Este foi o meu primeiro 'horário Adams'.

Muitos anos mais tarde criaram um tal de horário político-eleitoral obrigatório; o famigerado "Guia Eleitoral" - e, sua ligação com algum grau de cegueira foi imediata. Trabalharam a coisa para o nome de Horário Eleitoral, Horário Político - ou, coisa assim. Porque sempre evitei decorar seu título - a não ser quando, em meu íntimo, apresentou-se indefectível como 'horário Adams", também. E por que este epíteto a um tão singelo e patriótico sofisma da educação político-eleitoral? Ora, porque evidentemente o dito cujo é insalubre, tanto para a mídia quanto para o seu público radiouvinte e/ou telespectador; face às suas assombrosas personagens e seus disparates. O que piora a cada novo pleito político-eleitoral, com uma profusão cada vez maior de personagens enquadráveis nas classificações lombrosianas, para se dizer o mínimo.

Em uma observação mais acurada dessa pantomima eleitoreira midiática conclui-se que, está eivada de vícios e manhas para lograr sacar a 'carta da manga' que lhe garante tal grotesca encenação. Percebe-se o total despudor em pegar todo tipo de candidato - uns a laço e outros quiçá a dente de cachorro  - e registrá-los como tal para fins únicos da matemática do coeficiente. São tipos os mais anônimos e esquisitos e, até, hilários possíveis; chegando mesmo às raias da ficção e do inimaginável. Assombrados, assombrosos, cômicos, mas, pouco político, como a 'família do Frankestein' -, e a essa imbricação política denominei de: 'segundo horário Adams'. Ah uma caixinha do velho e bom chicles nesses momentos! Para aliviar a tensão, ao assistir a esse 'cinema mudo hi-tec', no qual os verdadeiros atores só são apresentados nas últimas cenas do 'filminho'; no encerramento da sessão. 


The End



*A partir da esquerda: o "Valério", no ombro do "cartola" "a mão" - de um "mensaleiro" (amputada pelo STF) -, e, ao centro, um típico remanescente dos "anões do orçamento"

(Ilustrações - fonte: Google Imagens)

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