*Em espera para aparecer no próximo "Guia Eleitoral"
Por George W de B Cavalcanti*
Todo
mundo tem o seu 'dia de fúria', tanto que até o mais santo dos homens
teve o seu; segundo relatam os Evangelhos. E, eu, depois de tomar calmantes e
devorar um pacote de biscoitos wafers acompanhado de grandes
goles de um do mais famosos refrigerante-intoxicante internacional, criei "saco" o suficiente para escrever este texto. Uma vez que a minha atual rotina de
vida deixa sua marca molhada por onde passa; o mais puro rastro de caracol.
Mas
vamos ao que interessa. Ou melhor, ao que não interessa, tanto que nos
vemos na obrigação de dar esse chute literário na esperança de que atinja
outros sacos daqui e de alhures. Enquanto que, para ser politicamente
correto e sem discriminação de gênero, também o disponibilizamos a
atingir a úteros e ovários de quem de direito ou interessar possa. Quem sabe,
ansiosas em experimentar o sentir da sensação de respectivo 'profundo impacto' do encaixar certeiro nos "países baixos" masculinos.
Mas
'o dado concreto é que', naquela espelunca onde anualmente uma horda de
matutos ensandecidos derrubava o muro frontal em sofreguidão para
assistir a 'Paixão de Cristo'; foi nela, espelunca, onde eu assisti as minha
primeiras matinês de cinema. A tal abafada e desconfortável sala de
projeção era antecedida por um grotesco pórtico onde lia-se o seu nada
modesto nome: "Cine Fênix". Pelo que soubera, havia erguido-se das
cinzas da falência algumas vezes, mas, nunca o assistira alçar tamanhas
alturas que o colocasse em perigo de consumir-se ao calor do sol.
Contudo
oferecia umas mordomias - pagas, evidentemente - que, por sua utilidade
e importância em horário diante da grande tela, permanecem
populares e imprescindíveis a qualquer ambiente de reprodução
cinematográfica que se prese: a pipoca quentinha e o baleiro de
chocolates e chicletes. Então, estes últimos eram os meus preferidos,
porque além de muito mais baratos, eu adorava abrir a tampinha da
pequena caixa rosa, branca e preta - cuidadosamente, e com a ponta da
unha - só para ver aquele misterioso número impresso em uma das orelhas
internas da embalagem. Nunca cheguei a saber o seu significado, mas
pouco me importava; eu curtia aquilo com verdadeiro frisson.
Fazia
aquela rústica porém saborosa pastilha, retangular e sem arestas, deslizar
por toda a extensão do meu palato, para depois - ao ritmo do roteiro do
filme - ir quebrando com os dentes a respectiva alva e crocante cobertura; como quem fragmenta aos poucos a louça de um recipiente com
deliciosa essência. Depois de sincronizados os ritmos do enredo
assistido e da minha mastigação, tudo era passado; a guloseima
volatizava-se e o que restava era uma persistente e insípida massa de
borracha a grudar-nos aos dentes. E sobre a qual se descarregava todo o
encantamento, ou, o contrariado revide da decepção ao gritar em uníssono
com a plateia: "úúú, quero o meu dinheiro"! Este foi o meu primeiro 'horário
Adams'.
Muitos
anos mais tarde criaram um tal de horário político-eleitoral
obrigatório; o famigerado "Guia Eleitoral" - e, sua ligação com algum
grau de cegueira foi imediata. Trabalharam a coisa para o nome de
Horário Eleitoral, Horário Político - ou, coisa assim. Porque sempre
evitei decorar seu título - a não ser quando, em meu íntimo,
apresentou-se indefectível como 'horário Adams", também. E por que este epíteto a um
tão singelo e patriótico sofisma da educação político-eleitoral? Ora,
porque evidentemente o dito cujo é insalubre, tanto para a mídia quanto para o seu público
radiouvinte e/ou telespectador; face às suas assombrosas personagens e seus
disparates. O que piora a cada novo pleito político-eleitoral, com uma
profusão cada vez maior de personagens enquadráveis nas classificações lombrosianas, para se dizer o mínimo.
Em
uma observação mais acurada dessa pantomima eleitoreira midiática conclui-se
que, está eivada de vícios e manhas para lograr sacar a 'carta da manga' que lhe garante tal grotesca encenação. Percebe-se o total despudor em pegar todo tipo de
candidato - uns a laço e outros quiçá a dente de cachorro - e
registrá-los como tal para fins únicos da matemática do coeficiente.
São tipos os mais anônimos e esquisitos e, até, hilários possíveis;
chegando mesmo às raias da ficção e do inimaginável. Assombrados,
assombrosos, cômicos, mas, pouco político, como a 'família do
Frankestein' -, e a essa imbricação política denominei de: 'segundo horário Adams'. Ah
uma caixinha do velho e bom chicles nesses momentos! Para aliviar a
tensão, ao assistir a esse 'cinema mudo hi-tec', no qual os verdadeiros atores só são apresentados nas últimas cenas do 'filminho'; no encerramento da sessão.
The End
*A partir da esquerda: o "Valério", no ombro do "cartola" "a mão" - de um "mensaleiro" (amputada pelo STF) -, e, ao centro, um típico remanescente dos "anões do orçamento"
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