Saudação

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A réstia

Por George W B Cavalcanti


Era por volta das onze horas num tempo feliz e o dia já ia alto, quando em minha peraltice vi e achei das cenas mais fulgurantes. Foi um facho de luz, um canal translúcido, a exibir as suas partículas, como se fora a poeira de um tempo preguiçoso a flutuar exibindo cansaço. Ali, diminutas e brilhantes, ora fagueiras ora lentas mas sempre mutantes, enquanto lá fora, a hora clara da lida lenta difundia no mormaço o seu hálito.

Àquela altura eu era um misto de inocência e de imaginação fascinada que vagava alheia às cenas domésticas da minha primeira morada; uma pequena ilha num mar de infindáveis e batidas rotinas domésticas, indiferente ao costumeiro pregão de um mascate que gritava na calçada. Tudo, então, parecia-me naquele afã uma novidade sempre surpreendente a trazer-me de chofre e, a qualquer momento, as mais exóticas facetas da vida.

Numa cidadezinha em que o cotidiano alternava os seus marasmos com eventuais burburinhos foi, na casa da minha infância, de lúgubres recônditos e chão de cimento - num instante de contemplação, em meio às minhas trelas e alegres correrias - que, a luz pertinaz e a fresta do telhado cúmplices deram-me o alumbramento.

Atônito, contemplei embevecido e, por pouco não saí dali voando até à pracinha para encontrar meus coleguinhas e, dizer-lhes em palavras entrecortadas pelo cansaço: Meninos olhem, eu juro que vi, o tempo descendo do céu numa encanação do espaço!


União dos Palmares - AL, 20 de julho de 2008.

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